Certo dia, Clara estava voltando do colégio, era ultima semana de aula, e ao mesmo tempo em que ela não via a hora que chegasse sexta-feira para ter o merecido descanso, ela sentia um vazio sabendo que após aqueles dias de férias ela teria que partir para um mundo novo: a faculdade. Enquanto andava a caminho de sua casa, Clara viu um envelope caído na rua. Pensando em colocá-lo na caixa de correio da casa destinada, ela pega o envelope, mas logo percebe que ele não tem destinatário e nem remetente. Não querendo jogá-lo na rua novamente a menina coloca-o na mochila e o leva para casa. Durante todo o caminho ela ficou imaginando o que teria dentro do tal envelope e se deveria abri-lo ou apenas jogá-lo no lixo.
Chegando em casa, Maria Clara está decidida a abrir e descobrir seu conteúdo, mas quando vai abri-lo sua irmã chega em seu quarto e a chama para almoçar e tinha que ser rápido pois elas logo, em dez minutos, teriam que sair para chegar a tempo no médico que havia sido adiantado. Clara, então deixa o envelope ao lado do computador, e sai correndo para não se atrasar. Após a consulta ela chega em casa já muito curiosa, e corre para o quarto. Abre a carta já com um certo medo do que poderia ver, mas não suficiente para superar sua curiosidade. Após aberta ela vê que há uma carta escrita a mão, uma coisa que ela não via há anos, desde quando ela trocava cartas com as amigas de infância da outra cidade em que morou, pois na época nenhuma das crianças gostava de falar ao telefone, preferiam trocar cartas. Ela pega a tal carta e começa a ler.
"Querida Olívia,
Hoje estou te escrevendo, pois não sei ao certo como lhe dizer isso "ao vivo". Após esses 4 anos de namoro, com uma história muito bonita, isso não posso negar, eu conheci uma pessoa muito especial. Quando nos conhecemos eu disse a você que por mais que os anos passassem, eu tentaria ao máximo fazer com que nosso relacionamento durasse, para que nunca mais, nem eu nem você, nos interessássemos por outras pessoas, pois a única que eu queria, daquele momento para frente seria você. Mas, de uns tempos para cá isso mudou. Como você sabe minha ex-namorada havia sumido depois do nosso término repentino, totalmente sem explicação. Mas semana passada, sem nenhum motivo aparente, ela reapareceu na minha vida. Eu, em um primeiro momento quis mandá-la embora, disse que ela não significava mais nada na minha vida e que eu tinha você que era tudo que eu queria. Mas foi então que minha vida mudou para sempre. Joana começou a me contar uma história que fez meu mundo desabar. Ela está com uma séria doença, e provavelmente seu tempo de vida é curto. E agora, depois de quatro anos ela resolveu me contar que temos uma filha, e que seu nome é Flávia. É, parece que ela resolveu homenagear o pai da menina.
Joana me contou que sumiu do mapa após terminar comigo, pois, em primeiro lugar seu pai teve uma oferta de emprego irrecusável em São Paulo, e em segundo lugar, porque teve medo que eu quisesse que ela tirasse a nossa filha, pois éramos muito novos, eu com 20 e ela com 16 anos. Agora que ela está com uma grave doença resolveu me contar sobre nossa filha, e essa é a pessoa especial que eu disse que conheci. Peço desculpas por estar contando isso para você de uma forma tão desonesta. Mas não sei como contaria isso, e você sabe que eu sou melhor escrevendo do que falando. Mas toda essa carta é para lhe fazer uma pergunta:
"Olívia, você gostaria de ir morar em São Paulo comigo?"
Pois é, terei que ir para lá. Como você sabe, entrei no ramo de jornalismo inspirado no pai de Joana e agora quem tem uma oferta de emprego irrecusável sou eu. A coisa que mais importa para mim neste momento é que você venha comigo, mas eu sei o quanto você é apegada com sua família, o quanto seu emprego importa para você e tenho medo da sua reação quando souber sobre minha filha. Eu entenderei, com o coração partido, se você não quiser partir comigo, mas gostaria muito que você me acompanhasse nesse novo momento em minha vida.
Espero ansiosamente por sua resposta. Caso eu não receba uma, entenderei que você fez a sua escolha.
Com amor, Flávio."
Depois que leu a carta Clara não sabia como começar, mas sabia que tinha que fazer uma coisa: procurar Olívia e entregar a carta. No dia seguinte, após voltar do colégio, ela refez o caminho, voltou ao local onde encontrou a carta e começou a perguntar na vizinhança se alguém conhecia Olívia ou Flávio. Após vários dias sem sucesso, Clara pergunta para um senhor de uma pequena casa da esquina se ele conhecia uma das pessoas que ela estava procurando. O senhor então responde que Flávio é seu filho, o dono da casa onde ele estava agora, mas que ele havia se mudado para São Paulo e agora ele estava arrumando as ultimas coisas para poder vender a casa. Clara pergunta se a namorada de Flávio, Olívia tinha ido junto com ele e isso assusta o senhor que quer saber como a menina sabe de tanta coisa sobre seu filho. Ela então entrega a carta para o pai de Flávio e após ler o homem muito emocionado, mostra para a menina qual o caminho que ela deve seguir para encontrar Olívia.
Chegando em frente a casa, ela aperta a campainha e aguarda uma resposta. Então aparece uma mulher muito bonita e Clara pergunta se ela é a Olívia. Após receber uma resposta positiva, ela entrega a carta, e espera a reação da mulher. Olívia chora muito e quando está em condições de falar agradece a menina por ter-lhe entregue a carta. Explica que não havia entendido o sumiço repentino do namorado e que quando ficou sabendo que ele havia se mudado para São Paulo ficou muito abalada. Agora lendo a carta ela conseguia entender o que havia acontecido. Olívia não tinha vontade de ter filhos e sempre deixou isso claro com seu namorado, mas isso não significava que ela não gostasse de crianças, muito pelo contrario. Olívia então diz à garota que arrumará suas malas e partira para São Paulo, pelo menos para conversar com Flávio, no dia seguinte.
Clara, satisfeita e feliz com seu trabalho chega em casa, escreve a história e envia para alguns amigos. É então, na semana seguinte que ela recebe uma resposta inesperada: Flávio nunca chegou a São Paulo. Não há evidencias de acidentes e sua família só sabe que ele saiu de Curitiba uma semana antes, mas não recebeu noticias desde então. Ao que parece ele jogou fora a carta que entregaria à namorada e desistiu de ir para o lugar em que mencionava na carta.
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